Companheiros ou ex são responsáveis por 48,6% dos casos de agressão a mulheres em Porto Alegre, diz pesquisa
A primeira edição da Pesquisa de Vitimização de Porto Alegre, realizada pelo Instituto Cidade Segura, aponta que 48,6% das agressões físicas contra mulheres, a ponto de deixarem marcas pelo corpo, ferimentos ou fraturas, foram cometidas por pessoas com quem elas mantêm ou mantinham relacionamentos. Os dados foram apresentados e debatidos nesta quarta-feira (7), durante encontro na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Entre os homens que foram agredidos, 3,1% vivenciaram o mesmo tipo de situação. Em 80% dos casos, as agressões partiram de desconhecidos ou conhecidos "de vista".
A pesquisa foi realizada em outubro do ano passado, a partir de entrevistas com mais de 1 mil pessoas. Segundo Daiana Hermann, pesquisadora e socióloga do Instituto Cidade Segura, os dados refletem o cenário de violência doméstica que é cotidiano para muitas mulheres.
E, pior do que isso, como se dá em um âmbito domiciliar, não é alvo de políticas públicas de prevenção à violência. "É um problema difícil de tratar, porque você tem políticas públicas pensadas para a violência que ocorre na rua. Há dificuldade para entrar na residência e agir no ambiente doméstico", analisa ela.
Por isso, como observa a pesquisadora, é tão importante que a segurança pública leve em conta os dados de vitimização, e não apenas os indicadores de ocorrência fornecidos pela política. "A gente sabe que para todos os crimes, existe uma cifra oculta. E nos casos de violência de gênero, essa cifra é ainda maior", diz ela. A subnotificação de crimes cometidos pelas mulheres é o que está por trás dessa cifra oculta, aponta Daiana.
Desgaste psicológico maior entre mulheres
A sensação de insegurança atinge mais as mulheres do que os homens, segundo os dados revelados pela pesquisa. Entre elas, 80% admitiram se sentirem inseguras em Porto Alegre, enquanto 69% dos homens deram a mesma resposta.
"A violência reflete no estilo de vida, de se apropriar da cidade, tem peso mental e psíquico, também é experimentado de forma diferente pelas mulheres", aponta a pesquisadora.
Isso decorre também do papel que as mulheres desempenham na sociedade, tidas como as responsáveis pelos cuidados com a família. "Muitas não dormem à noite e revelam um stress grande, pois se preocupam mais. Isso mostra como a divisão social do cuidado está mal distribuída", diz. "Elas deixam de fazer coisas, sair à noite, andar de transporte público. Coisas que homens não deixam de fazer", complementa.